Conheci o Maestro Mario Tavares pelos idos de 1973 ou 74 na Escola de Música de Piracicaba, interior de São Paulo. Na época eu tocava oboé havia pouco tempo, era ainda aluno aplicado de Ernst Mahle, compositor alemão que se instalou em Piracicaba e ali fundou uma escola modelo de qualidade de ensino da música. Um dia apareceu um maestro vindo do Rio de Janeiro que daria um concerto na EMP regendo a orquestra da Escola da qual eu era oboista. Ficamos todos em polvorosa, pois a fama que o precedia era a de uma pessoa extremamente exigente e mal humorada. Nossa surpresa foi muito grande, pois ele foi extremamente afável. No entanto o que mais me marcou no “Maestro”, como nós o chamávamos, não foi seu comportamento social mas suas qualidades como regente. Ouvia absolutamente tudo, regia tudo de memória e sabia exatamente o que queria e como. Muitos anos depois, quando eu queria entrar para a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro – isso já por volta de 1990 – estava com o clarinetista do Quinteto Villa-Lobos, Paulo Sérgio Santos no Theatro, na entrada dos músicos, quando o Maestro chegou para um ensaio. Paulo Sérgio falou com o Maestro e me apresentou. Mario Tavares então, para nossa admiração, disse: “eu já o conheço de longa data. Quando regi no dia tal, mês tal, em Piracicaba, na Escola do Mahle, havia lá um oboista que era você, não era? Lembro-me que no concerto apresentamos isso, isso e mais aquilo! Seja bem-vindo. Se você quiser tocar conosco aqui no Theatro, por mim não precisa fazer nenhum concurso, a menos que você esteja tocando menos bem que naquela época”. Essa memória ele tinha para os acontecimentos e para a música. Posteriormente, já oboista da orquestra do Theatro Municipal, entendi o porquê de sua fama de mal humorado. Não tinha a menor paciência com a mediocridade! Não suportava instrumentistas que não preparavam suas partes e tratava-os com imensa ironia. Este seu temperamento foi seguramente um dos maiores empecilhos a que ele tivesse uma carreira internacional como grande regente que poderia ter tido, pelas suas qualidades musicais. No entanto, nunca presenciei o fato de ele ter tratado mal algum bom músico! Ao contrário, gostava da companhia destes e escreveu muitas de suas obras para eles. Não tenho a menor dúvida que a razão de sua morte está na sua aposentadoria compulsória. Num momento em que um regente está no auge de seu conhecimento, de sua capacidade criativa, no domínio maior de sua técnica, não se pode realmente aceitar uma aposentadoria aos 70 anos. Ficou extremamente magoado, em seguida, com o que nos dizia ser um esquecimento por parte dos músicos. Ninguém o visitava ou “aparecia” para discutir música, pedir seus conselhos ou mesmo ouvir alguma composição nova. Creio que a partir disso tudo desenvolveu a doença que o levaria daí a pouco. Em uma visita, também na companhia do Paulo Sérgio, já no finalzinho, em seus últimos dias, estivemos conversando longamente com ele, e mesmo muito debilitado ele conseguiu reunir forças para um comentário jocoso em relação a um colega. Manteve sua ironia e humor até o final. No dia seguinte ele já não falava mais e daí mais alguns dias ele se foi. Deve estar regendo lá no céu, ironizando algum instrumentista medíocre. Se é que estes também vão para o céu!
GLAUCIA,ACREDITO QUE DEUS AO FAZER O HOMEM DOTOU-O DE MUITAS QUALIDADES.MARIO DESCOBRIU A SUA E NELA INVESTIU E ABRILHANTOU O MUNDO DA MÚSICA. CONHECI MARIO TARDIAMENTE, PORÉM BASTOU APENAS UMA APRESENTAÇÃO NO MUNICIPAL PARA QUE EU PERCEBESSE O QUANTO TALENTOSO ELE ERA. VOCÊ SEMPRE FOI UMA MULHER AMIGA, COMPANHEIRA,MANSA, ESTIMULADORA.CREIO QUE ATRAVÉS DA SUA SERENIDADE E COMPANHEIRISMO TORNOU POSSÍVEL A MÁRIO SEU CRESCIMENTO HUMANO E PROFISSIONAL. TORÇO QUE ATRAVÉS DESTA SUA INICIATIVA MUITOS VENHAM A CONHECER OS TRABALHOS DESTE MÚSICO QUE NOS LEGOU LINDAS OBRAS. BEIJOS MARILU
Sou uma pessoa muito simples, sóbria,econômica, e muito submissa ,mas com personalidade e independente, criativa mas fraca.Tenho muito temor a Deus e amo a Sua expetacular criação....
MARIO TAVARES
ResponderExcluirConheci o Maestro Mario Tavares pelos idos de 1973 ou 74 na Escola de Música de Piracicaba, interior de São Paulo. Na época eu tocava oboé havia pouco tempo, era ainda aluno aplicado de Ernst Mahle, compositor alemão que se instalou em Piracicaba e ali fundou uma escola modelo de qualidade de ensino da música. Um dia apareceu um maestro vindo do Rio de Janeiro que daria um concerto na EMP regendo a orquestra da Escola da qual eu era oboista. Ficamos todos em polvorosa, pois a fama que o precedia era a de uma pessoa extremamente exigente e mal humorada. Nossa surpresa foi muito grande, pois ele foi extremamente afável. No entanto o que mais me marcou no “Maestro”, como nós o chamávamos, não foi seu comportamento social mas suas qualidades como regente. Ouvia absolutamente tudo, regia tudo de memória e sabia exatamente o que queria e como.
Muitos anos depois, quando eu queria entrar para a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro – isso já por volta de 1990 – estava com o clarinetista do Quinteto Villa-Lobos, Paulo Sérgio Santos no Theatro, na entrada dos músicos, quando o Maestro chegou para um ensaio. Paulo Sérgio falou com o Maestro e me apresentou. Mario Tavares então, para nossa admiração, disse: “eu já o conheço de longa data. Quando regi no dia tal, mês tal, em Piracicaba, na Escola do Mahle, havia lá um oboista que era você, não era? Lembro-me que no concerto apresentamos isso, isso e mais aquilo! Seja bem-vindo. Se você quiser tocar conosco aqui no Theatro, por mim não precisa fazer nenhum concurso, a menos que você esteja tocando menos bem que naquela época”.
Essa memória ele tinha para os acontecimentos e para a música.
Posteriormente, já oboista da orquestra do Theatro Municipal, entendi o porquê de sua fama de mal humorado. Não tinha a menor paciência com a mediocridade! Não suportava instrumentistas que não preparavam suas partes e tratava-os com imensa ironia. Este seu temperamento foi seguramente um dos maiores empecilhos a que ele tivesse uma carreira internacional como grande regente que poderia ter tido, pelas suas qualidades musicais. No entanto, nunca presenciei o fato de ele ter tratado mal algum bom músico! Ao contrário, gostava da companhia destes e escreveu muitas de suas obras para eles.
Não tenho a menor dúvida que a razão de sua morte está na sua aposentadoria compulsória. Num momento em que um regente está no auge de seu conhecimento, de sua capacidade criativa, no domínio maior de sua técnica, não se pode realmente aceitar uma aposentadoria aos 70 anos.
Ficou extremamente magoado, em seguida, com o que nos dizia ser um esquecimento por parte dos músicos. Ninguém o visitava ou “aparecia” para discutir música, pedir seus conselhos ou mesmo ouvir alguma composição nova. Creio que a partir disso tudo desenvolveu a doença que o levaria daí a pouco.
Em uma visita, também na companhia do Paulo Sérgio, já no finalzinho, em seus últimos dias, estivemos conversando longamente com ele, e mesmo muito debilitado ele conseguiu reunir forças para um comentário jocoso em relação a um colega. Manteve sua ironia e humor até o final. No dia seguinte ele já não falava mais e daí mais alguns dias ele se foi.
Deve estar regendo lá no céu, ironizando algum instrumentista medíocre. Se é que estes também vão para o céu!
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GLAUCIA,ACREDITO QUE DEUS AO FAZER O HOMEM DOTOU-O DE MUITAS QUALIDADES.MARIO DESCOBRIU A SUA E NELA INVESTIU E ABRILHANTOU O MUNDO DA MÚSICA.
ResponderExcluirCONHECI MARIO TARDIAMENTE, PORÉM BASTOU APENAS UMA APRESENTAÇÃO NO MUNICIPAL PARA QUE EU PERCEBESSE O QUANTO TALENTOSO ELE ERA.
VOCÊ SEMPRE FOI UMA MULHER AMIGA, COMPANHEIRA,MANSA, ESTIMULADORA.CREIO QUE
ATRAVÉS DA SUA SERENIDADE E COMPANHEIRISMO TORNOU POSSÍVEL A MÁRIO SEU CRESCIMENTO HUMANO E PROFISSIONAL.
TORÇO QUE ATRAVÉS DESTA SUA INICIATIVA MUITOS VENHAM A CONHECER OS TRABALHOS DESTE MÚSICO QUE NOS LEGOU LINDAS OBRAS.
BEIJOS MARILU